Paredes coloridas, palhaços pelos corredores, lanchinhos divertidos, elevadores disfarçados de máquina do tempo — ou seria o contrário? — e chapéu de mago “flutuando” no teto. Apesar de a vida ser celebrada diariamente ali, não se trata de uma casa de festas. Nos nove andares do prédio com letreiro colorido e desenhos na fachada, em Vila Valqueire, na Zona Norte do Rio, funciona o Hospital Estadual da Criança (HEC). A decoração encanta os pequenos pacientes e seus pais, mas a cereja desse enorme bolo são seus médicos, que circulam pelas salas com toucas coloridas. São eles os responsáveis por cirurgias complexas, algumas inéditas até então na rede pública do Rio. Praticamente um show de mágica.
Foi na unidade, administrada pela organização social Instituto D’Or de Gestão de Saúde Pública, que o pequeno Davi Luiz, de 11 meses, foi submetido a uma cirurgia raríssima, que salvou sua vida. O bebê nasceu sem o osso esterno, que se une às costelas e protege a região onde fica o coração. O problema, que acomete um em cada cem mil nascidos vivos, deixava o coração do menino exposto, pulsando sob a pele do peito.
— Davi estava com o coração exposto, com risco iminente de vida. Na cirurgia, feita em 11 de março, aproximamos as vertentes laterais, unindo as costelas. Um calo ósseo se formará no local e, em seis meses, há a cicatrização completa — explicou o cirurgião pediátrico Francisco Nicanor, que deixou a equipe do Hospital Municipal Jesus para integrar o corpo médico do HEC. — É o segundo caso (de ausência do osso esterno) que opero em 25 anos de profissão. O primeiro foi na rede privada. É indescritível poder atender alguém que não tem a menor condição financeira com toda essa estrutura.
Davi pode não entender sobre o que aquele homem de touca colorida está falando, mas devolve o carinho com sorrisos e beijos espalmados.
A família de Davi Luiz mora em São João de Meriti. Foi lá, no Hospital estadual da Mulher Heloneida Studart, que Katlen dos Santos, de 22 anos, deu à luz o menino. Após um mês internada, a criança recebeu alta e a mãe, a recomendação para procurar atendimento para o filho. Sem encaminhamento, Katlen passou por três unidades de saúde até chegar ao HEC, por meio da Central Estadual de Regulação.
— Está tudo bem com Davi agora. O peito não pulsa como antes — diz a mãe.
O caminho de Isabella Lara Ribeiro, de 13 anos, foi ainda mais longo. Portadora de uma doença degenerativa que atrofia os membros inferiores e superiores, chamada polineuropatia periférica, a menina estava há pelo menos três anos na fila do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), à espera de uma cirurgia na coluna.
— Por causa de uma escoliose avançada, Bella estava muito curvada e não conseguia mais se alimentar. A respiração estava comprometida. A cirurgia foi feita em duas etapas e conseguiram fixar a coluna dela no lugar. Minha filha respira hoje sem aparelhos. É outra criança. Melhorou muito a qualidade de vida dela e tudo foi feito com muito cuidado — disse Michelle Formagio, moradora de Itaguaí.
Isabella Lara Ribeiro, de 13 anos, ganhou qualidade de vida após a cirurgia e pôde ir para casa Foto: Álbum de família
A mãe contou que se surpreendeu com a estrutura do HEC, mas foram os profissionais que atenderam sua filha que ela faz questão de guardar no coração:
— Bella passou o aniversário de 13 anos internada e até uma festa eles fizeram!
E não é que parece uma casa de festas?!
O Hospital Estadual da Criança realizou 7.304 cirurgias pediátricas desde a sua inauguração, em março de 2013. Com investimento de R$ 5 milhões em equipamentos e obras de adaptação, a unidade conta com 58 leitos de enfermaria, 16 de UTI neonatal, nove de UTI pediátrica e oito poltronas de quimioterapia, além de oferecer exames de ultrassonografia, tomografia, ecocardiografia e broncoscopia.
A diretora do HEC, Heloísa Graça Aranha, explica que a unidade não oferece atendimento de emergência:
— Para ser atendido na unidade, o paciente precisa ser regulado pela Central Estadual de Regulação. Ou seja, deve procurar um posto de saúde ou Clínica da Família perto de sua casa para a primeira avaliação. Cabe à unidade de saúde em questão solicitar o encaminhamento desse paciente para que ele seja direcionado ao HEC. Não há agendamento de consulta diretamente na unidade. Após a realização de procedimentos na unidade, o paciente continua a ser acompanhado pela equipe médica. O serviço de ambulatório é voltado para o acompanhamento dos pacientes em tratamento na unidade.
O HEC é referência no atendimento pediátrico para pacientes de 0 a 19 anos e realiza procedimentos de baixa, média e alta complexidade — como cirurgias gerais, ortopédicas e no cérebro (até 1 ano de idade), além de tratamentos contra o câncer e transplantes renais e hepáticos.
Fonte: Jornal Extra
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